A racionalidade prática do professor é elemento constitutivo de sua cultura profissional.


AS CONTRIBUIÇÕES DA ANDRAGOGIA À APRENDIZAGEM DE ADULTOS

17/06/2010 14:40

 

AS CONTRIBUIÇÕES DA ANDRAGOGIA À APRENDIZAGEM DE ADULTOS[1]

Jefferson Falcão Sales[2]

 

 

Introdução

 

 

                Estou convicto de que todo trabalho acadêmico apresenta muito da singularidade experiencial de seu autor. Quando foi sugerida a escolha de uma das temáticas abordadas para a realização de um paper, busquei a conciliação do tema que pesquiso e trabalho com as teorias de aprendizagem estudadas na disciplina em evidência. Este texto pretende discutir a prática pedagógica na educação de adultos. Foi resgatado o conceito de Andragogia como a primeira aproximação para com as especificidades da aprendizagem de adultos. Daí, apresentamos os princípios didáticos-anadragógicos como elementos significativos à formação de adultos.

 

O papel da aprendizagem autodirigida na Educação de Adultos

 Segundo Mucchielli (1981), chamam-se "adultos" homens e mulheres com mais de 23 anos e que ingressaram na vida profissional, assumindo papéis sociais e responsabilidades familiares, contando com uma experiência direta do existir.

Já Pinto (1985) afirma que o adulto é o membro da sociedade ao qual cabe a produção social, a direção da sociedade e a reprodução da espécie.

São duas concepções quase similares de autores que estudaram a educação de adultos. Estas concepções são importantes para que os educadores de adultos não falhem em suas metas, propondo métodos que sub-estimem as capacidades de seus aprendentes maduros. Estes indivíduos trazem consigo grandes experiências e a responsabilidade de serem reprodutores da sociedade através de seus trabalhos. São homens e mulheres contemporâneos de seus tempos que acompanham as mudanças existentes através dos mass media[3] a nível informativo e desejam compreendê-las melhor para utilizá-las em suas vidas. Então, é preciso vencer os estigmas e estereótipos que se referem à aprendizagem de adultos trabalhadores que voltam a sala de aula, pois senão o educador não o considerará como um ser pensante, e sim, um atrasado. Sobre o assunto afirma Pinto (1985):

 

"Esta concepção além de falsa e ingênua é inadequada porque: deixa de encarar o adulto como um sabedor; ignora que o desenvolvimento fundamental do homem é de natureza social, faz-se pelo trabalho, e que o desenvolvimento não pára pelo fato de indivíduo permanecer analfabeto. Ignora o processo de evolução de suas faculdades cerebrais. Não reconhece o adulto iletrado como membro atuante e pensante de sua comunidade na qual de nenhuma maneira é julgado um "atrasado", e onde, ao contrário, pode até desenvolver uma personalidade de vanguarda." (PINTO, 1985, p.87-88)

Os aprendentes adultos são singulares no que diz respeito à forma como decidem e se interessam em aprender. Assim, os educadores devem considerar que estes já sabem o que querem, apesar de muitas vezes não parecer. São, em sua maioria, auto-diretivos e desejam crescer e aprender. Gostam de ser escutados e valorizados apesar de no início se apresentarem intimidados. Ficam tensos e desmotivados ao sentirem o perigo da derrota no processo, precisam ser sempre incentivados e aprendem melhor quando o ensino é centrado na realidade em que estão inseridos.

 

Neste sentido, a aprendizagem autodirigida, tornou-se uma importante área de investigação dentro do campo da educação de adultos. Entre os estudiosos precursores das reflexões sobre este tipo de aprendizagem, está o professor de adultos Malcom Knowles (1975). Para Knowles apud Moura (2000), o adulto tem uma necessidade profunda de ser autodirigido, definindo a aprendizagem autorigida da seguinte forma:

 

"No sentido amplo, aprendizagem autodirigida descreve o processo no qual os indivíduos formam a iniciativa de com ou sem a ajuda de outros diagnosticar as suas necessidades de aprendizagem, formular objetivos de aprendizagem, identificar os recursos humanos e materiais para aprender, escolher e implementar as estratégicas apropriadas e avaliar os resultados obtidos na aprendizagem" (Knowles apud MOURA, p-20, 1998).

 

Knowles apud Moura (1998) centra sua atenção no aprendente autodirigido inserido no sistema educativo formal, conduzindo os seus projetos de aprendizagem de uma forma linear, decidindo quais atividades recursos, métodos e técnicas a implementar, e avaliando os resultados alcançados. Este autor afirma que os aprendentes adultos são pessoas que têm uma necessidade profunda de serem autodirigidos, à medida que vão amadurecendo. Nesta perspectiva, o aprendente adulto deseja assumir o controle sobre a sua própria aprendizagem. Knowles apud Moura (1998) não afirma que o aprendente autodirigido tenha sempre o controle sobre o processo de aprendizagem, mas suas idéias influenciaram a concepção de que os adultos estão naturalmente predispostos à autodireção.

Diversos fatores influenciam o processo de aprendizagem autodirigida: ambiente, informação, aprendente, temática da aprendizagem, circunstâncias envolventes. Apesar de ser possível apresentar diversas etapas num processo de aprendizagem autodirigida, contudo a evolução desse mesmo processo está bastante dependente das circunstâncias que o rodeiam.(MOURA, 2000).

No entanto, Knowles apud Moura (2000) considera que o processo ocorre de forma unívoca e linear, seguindo a sucessão de etapas: 1) diagnóstico das necessidades de aprendizagem, 2) identificação dos objetivos a alcançar, 3) identificação dos recursos de aprendizagem e 4) avaliação dos resultados. Sua teoria ainda da ênfase aos grupos de aprendizagem que, segundo ele, são não somente forças motivadoras, mas também uma fonte de informação e avaliação dos projetos de aprendizagem. Segundo Knowles apud Moura (1998):

"Tipicamente um contrato de aprendizagem especifica: 1) conhecimentos, competências, atitudes e valores a serem adquiridos pelo aprendente, objetivos de aprendizagem; 2) o modo como este objetivos são alcançados (recursos e estratégias de aprendizagem); 3) a data para alcançá-los; 4) que evidencias são necessárias para demonstrar que os objetivos foram alcançados; e 5) como estas evidências serão julgadas e avaliadas." (Knowles apud MOURA, 19R8, p-25).

Está implícito que a autonomia do aprendente é indispensável para o levante da aprendizagem autodirigida, no entanto, esta não pode garantir o sucesso na aprendizagem da referida modalidade de ensino, pois como o aprendente é um ser social influenciado pela contingência que beneficia, ou não, o processo em que está inserido.

Malcolm Knowles começou a popularização do termo Andragogia publicando a obra "The adult Learner - A neglected Species" (1975), introduzindo e definindo Andragogia - A arte e ciência de Orientar Adultos a Aprender. Knowles apud Cavalcanti (1999) identifica quatro características dos adultos como aprendentes:

-    uma concepção de existência que tende para o sentido da existência;

-    um reservatório crescente de experiência;

-    uma prontidão para desenvolvimento do aprender;

   uma orientação centrada no problema da realidade da aprendizagem.

Este autor definiu a pedagogia como a arte e ciência de ensinar, e a andragogia como a arte e ciência de ajudar outra pessoa a aprender, ou seja, aprendendo como aprender. Segundo ele, os pedagogos vêem a experiência do aprendente criança como tendo pouco valor, enquanto que os andragogos vêem a experiência do aprendente adulto como um recurso "aprendendo". Ainda sobre os pedagogos, afirma que estes preparam os aprendentes com recursos materiais novos baseados em resultados decididos. Já os andragogos acreditam que o aprendente é "recurso", quando então vêem uma necessidade para tarefas relacionadas com suas vidas ou trabalho (Knowles apud CAVALCANTI, 1999).

 

Com este paralelo, torna-se evidente que a ciência andragógica apresenta singularidades que atendem verdadeiramente a população adulta, que deseja iniciar ou continuar o seu processo de aprendizagem ao longo da vida. Na próxima seção trataremos da Andragogia com mais profundidade.

 

Andragogia: a ciência de educar adultos

 

Muitos são os conceitos dados a palavra Andragogia. Knowles apud Gomes (2000) define andragogia como a arte e ciência de orientar adultos a aprender./Andragogia - é a filosofia, ciência e a técnica da educação do homem. Do grego: andros = homem. Agein = conduzir . logos= tratado ou ciência.

 

Segundo Knowles apud Gomes (2000), houve poucas pesquisas e trabalhos escritos sobre a aprendizagem de adultos. O autor salienta ainda, que isso é surpreendente, devido ao fato de todas os grandes mestres da antiguidade, Confucio e Lao Tse, os profetas hebreus e Jesus nos tempos bíblicos, Aristóteles, Sócrates e Platão na Grécia antiga, e Cícero, Evelide e Quintiliano na Roma antiga, eram todos professores de adultos, não de crianças. Assim, eles desenvolveram um conceito de ensino aprendizagem bem diferente daquele que dominou na educação formal. Eles compreendiam a aprendizagem como processo de investigação mental, não como recepção passiva do conceito transmitido.

Sabe-se que o termo Andragogia ainda não é muito popular no Brasil. Normalmente, é associado ainda com a alfabetização de adultos ou ensino supletivo, diferente do que acontece em outros lugares do mundo. Segundo Furter (1966), essa ciência compreenderá tanto o estudo das formas de autodidatismo quanto daquelas que a intervenção de outrem (individual ou coletiva) aparece como indispensável.

Da necessidade de se determinar quais as diferenças tanto conceituais como técnicas entre a educação da criança e adolescente para uma educação de adultos, surge este novo campo a andragogia, uma ciência da educação de adultos. Sugere Knowles apud Cavalcanti (1999) a reflexão e elaboração de objetivos que poderiam ser assim pontuados:

1.estabelecimento dos fundamentos de uma didática válida para realizar adequadamente uma gestão de aprendizagem nas salas de aulas de adultos;

2.estabelecer princípios técnicos e metodológicos que permitam o tratamento didático dos diferentes programas da educação de adultos;

3.estabelecer as diferenças entre o aprendizado de criança (pedagogia) e de adultos (andragogia).

 

Deste terceiro, se destacam as seguintes diferenças, segundo Quadro l (CAVALCANTI,1999):

 

Quadro 1 – Distinção entre Pedagogia e Andragogia

Característica da Aprendizagem

Pedagogia

Andragogia

Relação Professor/Aluno

 

Professor é o centro das ações, decide o que ensinar, como ensinar e avalia a aprendizagem.

A aprendizagem adquire uma característica mais centrada no aprendente, na independência e na auto-gestão da aprendizagem.

Razões da Aprendizagem

Crianças (ou adultos) devem aprender o que a sociedade espera que saibam (seguindo um currículo a maioria das vezes padronizado).

Pessoas adultas aprendem o que realmente precisam saber (aprendizagem para a aplicação prática na vida diária).

Experiência do aluno

O ensino é didático, padronizado e a experiência do aluno tem pouco valor.

A experiência é rica fonte de aprendizagem, através da discussão e da solução de problemas em grupo.

Orientação da Aprendizagem

Aprendizagem por assunto ou matéria.

Aprendizagem baseada em problemas, exigindo ampla gama de conhecimentos para se chegar a solução.

Fonte: Cavalcanti, 1999, p.39.

"A aprendizagem é um processo pelo qual o adulto aprende a torna-se consciente e avaliar sua experiência. Para fazer isso, ele não pode começar pêlos estudos de assuntos, pela esperança que algum dia esta informação será útil. Em resumo, minha concepção de educação de adultos é esta: uma aventura cooperativa na aprendizagem informal e não autoritária, com o propósito principal que é descobrir o significado da experiência, uma técnica de aprendizagem para adultos que faz a educação relacionar-se com a vida." (Lindeman apud CAVALCANTI, 1999, p-22)

Através das palavras de Lindeman apud Cavalcanti (l999) se fundamentou uma teoria sistemática sobre a especificidade da educação de adultos abordaremos sobre o assunto a seguir.

 

Princípios psicopedagógicos para uma didática andragógica


 

Na elaboração de alguns princípios psicopedagógicos de uma didática para adultos, deve-se partir do pressuposto, segundo Knowles apud Cavalcanti (1999), de que o adulto -como aprendente - é alguém que traz consigo uma gama de conhecimentos de experiências anteriores que devem servir de ponto de partida e enriquecimento para a elaboração de situações de aprendizagem, tanto no que se refere ao conteúdo quanto das técnicas. O modelo didático andragógico, segundo Knowles apud Cavalcanti (1999), deve seguir os seguintes pressupostos:

-    os adultos são motivados a aprender de acordo com suas necessidades e interesses práticos.

-    os planejamentos e planos de curso para aprendentes adultos devem ser centrados na vida real, assim, a experiência dos mesmos é o maior recurso didático andragógico; favorecer a autodireção da aprendizagem nos adultos;

-    considerar as diferenças de estilos, tempo, local e ritmo de aprendizagem dos adultos.

 

Conforme Goguelin (1973), formar um adulto é favorecer a evolução global da sua personalidade e, a partir da experiência vivida e dos conhecimentos adquiridos, permitir-lhe adquirir os elementos de toda a espécie que lhe darão a possibilidade, modificando-lhe o saber-existir, de uma realização mais completa dele próprio, numa adaptação autêntica e realista para si mesmo, ao meio em que vive.

Enfim, a finalidade da ação andragógica é não somente fornecer apenas conteúdos informativos, mas criar condições indispensáveis para que a emancipação do aprendente adulto torne-se realidade nos campos cognitivos, afetivos e comportamentais. Uma situação didática, assim planejada, é extremamente incentivadora e motivadora.

Os estudiosos clássicos chamam de motivação toda tensão afetiva: sentimento, desejo, aspiração, tendência de necessidade suscetível de desencadear e de sustentar uma ação. A motivação dinamiza, ativa e põe em movimento (daí o parentesco com "mover" ,"moção"), dirige e canaliza o comportamento em direção dos objetivos. Um comportamento "motivado" é, portanto, um comportamento orientado para um objetivo satisfatório.

Segundo Goguelin (1973), quando o aprendente adulto está motivado para aprender (isto é, positivamente e num grau útil de tensão) tem atitudes que são altamente satisfatórias ao seu crescimento congnitivo e interpessoal, como interesse positivo pelo tema de estudo, atenção apurada no ensino, iniciativa própria, perseverança aos obstáculos e dificuldades, capacidade de auto-avaliação. 

No caso específico dos aprendentes adultos, conforme Mucchielli (1981), as motivações mais comuns são:

*           a curiosidade e a necessidade de saber - desejo de conhecer o desconhecido. Desvelar a realidade e seus mistérios;

*           o sucesso pessoal - buscar o sucesso e a vitória frente aos objetivos e metas a serem alcançados. Esta é uma das chaves da motivação humana;

*           a prova de si mesmo, e capacidade de auto-avaliar-se - necessidade de conhecer e saber  sobre seu desempenho e sobre suas potencialidades de aprendizagem;

*       a necessidade de realização própria - a motivação mais importante do ser humano, relaciona-se com o desenvolvimento de suas potencialidades, através de atividades, trabalhos, estudos e outras realizações;

*           a competição - a necessidade de auto-afirmação através de saudáveis competições intelectuais;

*           a presença do grupo - o trabalho em grupo traz benefícios ao desenvolvimento da motivação e equilibra determinados conflitos individuais.

 

Associadas a essas motivações comuns, Mucchielli (1981) acrescenta outros fatores determinantes de atenção e atividade presentes nos aprendentes adultos:

 

"Percepção da utilidade: para si  e para aqueles pelos quais somos responsáveis pelo trabalho a executar, para a consecução dos objetivos pessoais é motivadora; Percepção clara da finalidade: "saber para onde se vai" é uma necessidade adulta, que justifica o caminho proposto e faz aceitar os obstáculos eventuais; Percepção da facilidade: no campo da instrução a clareza da imposição a ordem racional a facilitação do conhecimento a ser adquirido, a inteligibilidade, são fatores motivantes. O contrário desanima;Percepção da conformidade: o fato de pertencer a grupos (ou a grupos dos quais desejaria fazer parte) determina atividades e aquisições com a finalidade de "colocar-se no nível" ;O prestígio social: é um valor e como tal, motivante. A procura de ascensão social, profissional, de promoção, de consideração, estimula os esforços pessoais perseverantes" (MUCCHIELLI, 1981, p. 105-106).

 

Segundo Dália et al. (1983), através de estudos e pesquisas envolvendo a psicologia e a psicopedagogia de adultos, estes aprendentes apresentam no processo ensino-aprendizagem comportamentos singulares, que devem ser conhecidos pelos seus educadores para auxiliá-los em seus planejamentos:

*           Os adultos só aprendem se quiserem - os formadores devem estar cientes de que adultos aprendentes são práticos e somente se submetem a novos desafios de aprendizagem se os resultados lhes forem úteis e de imediato;

*           Os adultos aprendem resolvendo problemas ligados à realidade - a vida real com suas imprevisibilidades e dificuldades devem ser os objetos de estudos dos adultos, pois seusinteresses se dirigem a este sentido;

*           A experiência afeta a maneira de aprender dos adultos - Os conhecimentos prévios fruto das experiências anteriores dos aprendentes adultos são os pré-requisitos de toda equalquer nova empreitada de aprendizagem para os adultos;

*           Os adultos aprendem melhor num ambiente descontraído - a sala de aula de adultos, deve ser bem distinta das convencionais existentes nas instituições educacionais, pois eles necessitam esquecer de experiências de aprendizagem negativas que tiveram quando aprendentes infantis;

*           Os adultos querem ser orientados e não avaliados - os adultos aprendentes não aprendem através de processos como estímulo- resposta, boas notas - recompensas, pois isso os infantiliza e sub-estima seus potenciais de aprendizagem.

 

Estão relacionadas algumas sugestões sobre o modo como a atividade de ensino-aprendizagem poderá ser adequadamente adaptada para superação da infantilização dos adultos e de suas dificuldades com o avançar da idade (DÁLIA, 1983).

*           É preciso evitar excesso de exposição oral e memorização: à aprendizagem verbal através da “decoreba”, os adultos têm aversão. Deve-se utilizar métodos onde são incentivados à participação e resolução de tarefas seguindo seus ritmos de aprendizagem;

*           Nunca querer que o adulto esqueça aquilo que aprendeu:  é preciso ter cuidado ao lidar com situações onde o aprendente apresenta conhecimentos "insatisfatórios" sobre assuntos subjetivos (opiniões sobre política, cultura, religião e outros) para que não coloque em risco o processo de ensino e aprendizagem;

*           Trabalhar a auto-estima do aprendente adulto: proporcionar momentos em sala, onde os adultos usem suas habilidades artísticas (pintura, canto, desenho, escultura e outras) com o intuito de permitir a desconcentração nas situações estressantes que surgem no processo, resgatando sua auto-estima;

 

*           Favorecer à aprendizagem ativa e significativa: os adultos aprendem mais facilmente quando são desafiados a resolver problemas que tenham significação para eles, assim agirão com o intuito de solucioná-los com mais motivação.

 

A formação do professor da Educação de Adultos

 

Na seção anterior, definiu-se e enquadrou-se na situação ensino-aprendizagem os adultos aprendentes. Indivíduos que devido à maturidade, sofreram transformações, tais como: tornaram-se indivíduos autodirecionados; acumularam experiência; desenvolveram habilidades referentes aos ofícios que realizavam; buscam aprender conhecimentos que favoreçam e aperfeiçoem os que já assimilaram, esperando reconhecimento profissional e promoções. Essas transformações irão influenciar a forma de como a aprendizagem nos seres humanos adultos se realizará. Assim faz-se necessário que esta seja significativa e seja bem planejada, respeitando o ritmo e expectativas do aprendente. É preciso ainda que os objetivos e metas a serem alcançados no processo sejam informados ao adulto e tenham uma ordem de execução coerente, pois assim, elevará a auto-estima do aprendente, e se sentindo mais valorizado, participará com mais interesse e vontade, favorecendo a aprendizagem. As atividades e conhecimentos propostos devem ser de caráter interdisciplinar e transdisciplinar, pois as informações teóricas se integrarão com situações práticas do cotidiano do aprendente, desenvolvendo aspectos cognitivos e atitudinais.

Dentro destas condições, os objetivos da formação andragógica seriam conduzir o aprendente a aprender e, acrescenta-se o aprender a ser , aprender a conviver e o aprender a fazer:  pilares da educação. Como indica a Declaração de Hamburgo:

"A educação de adultos adquiriu uma amplitude e uma dimensão acrescidas; ela tornou-se um imperativo para o lugar de trabalho, o lar e a comunidade, no momento em que homens e mulheres lutam para influir sobre o curso de sua existência em cada uma de suas etapas. A educação de adultos desempenha um papel essencial e específico, na medida em que possibilita às mulheres e aos homens adaptarem-se eficazmente a um mundo em constante mutação, e lhes ministra um ensino que leva em conta os direitos e as responsabilidades do adulto e da comunidade" (DECLARAÇÃO DE HAMBURGO: uma visão para o futuro, 1999, p.30-31).

Conforme Lindeman apud Cavalcanti (1999) nós aprendemos aquilo que nós fazemos. A experiência é o livro-texto vivo do aprendente adulto. E acrescenta Mucchielli (1981) que o andragogo tem "autoridade funcional de um conselheiro técnico" e não um poder autoritário fonte de conflitos na gestão de organização de aprendizagem.

O formador de adultos nunca deve esquecer que o adulto aprende o tempo todo, ouvindo, vendo, experimentando e associando. Na maioria das vezes, de forma não programada ao longo de toda sua vida. É por isto, que ao invés de um "magister" falando, eles preferem um facilitador de atividades de grupos, devendo demonstrar a importância prática ao assunto a ser estudado, que transmita entusiasmo pelo aprendizado, dando a sensação de que aquele conhecimento fará diferença na vida deles. Assim, transmite força, esperança e a sensação de que aquela atividade está mudando a vida de todos, e não simplesmente, aumentando suas redes neurais.

O educador de adultos precisa se valer destas tendências para conseguir mais participação e envolvimento dos aprendentes. Isto pode ser conseguido através de uma avaliação das necessidades do grupo, cujos resultados serão enfaticamente utilizados no planejamento das atividades. Então, seu papel seria engajar-se em um processo de mútua investigação em lugar de transmitir o seu conhecimento, e avaliar a adequação deles em relação ao processo. Ora, guiando sua práxis nesse sentido, estará cumprindo o objetivo da educação de adultos que não é ministrar o ensino, mas assegurar uma formação, criando um clima de curiosidade intelectual, de liberdade social e de tolerância, suscitando em cada um necessidade e a possibilidade de participar ativamente no desenvolvimento cultural de sua época.

 

O educador, segundo Cavalcanti (1999), o afeito a andragogia raramente responderia alguma pergunta. Ele devolverá à classe, perguntando: "Quem pode iniciar uma resposta? Quem sabe a resposta?" Também não irá dizer que a resposta de um aprendente está errada. Cada resposta sempre terá alguma ponta de verdade que deve ser aproveitada e trabalhada. Então, fará novas perguntas a outros estudantes, de modo a correlacionar a resposta até obter a informação completa. Se é feita esta metodologia, o aprendente não sentirá nenhuma inferioridade, pois verificará que está simplesmente refletindo aquela aprendizagem que já aconteceu a outro, e que deu a este último a capacidade de educar também.  Deste modo, aprendente e “ensinante” conduzirão um processo onde a experiência do primeiro será fonte inspiradora do trabalho do segundo; onde a aprendizagem tradicional dará lugar a uma aprendizagem contextualizada, por sua vez, significativa; e também, onde a motivação de ambos será a garantia da realização das metas e objetivos a serem alcançados.  

 

Encerramos esta reflexão, afirmando que os estudos andragógicos apresentados e discutidos neste texto trazem relevantes contribuições à formação de professores da educação de adultos. 

 

Referências Bibliográficas

 

 

CAVALCANI, Roberto de Albuquerque. Andragogia: Aprendizagem nos Adultos. Revista de Clínica Cirúrgica da Paraíba, João Pessoa, n.6, p. 33-41, jul, 1999.

 

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO DE ADULTOS. Declaração de Hamburgo: agenda para o futuro. Brasília: SESI/UNESCO, 1999.

 

DÁLIA, Edna C. O. et al.  Educação de Adultos – Textos e Pesquisas. Rio de Janeiro: Edições Achimé, 1983.

 

FURTER, Pierre. Educação e Vida. Petrópolis: Vozes, 1966.

 

GOGUELIN, Pierre. A formação contínua dos adultos. Póvoa de Vargim: Publicações Europa-América Lda, 1973.

 

GOMES, Rita de Cássia Guarezi et al. Tecnologia e Andragogia: aliadas na educação à distância – Gestão de Sistemas de Educação a Distância. Laboratório de Ensino à Distância: UFSC, 2000.

 

MOURA, Rui Manuel. Processo de Aprendizagem Autodirigida em Adultos. Tese de Mestrado. Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 1998.

 

__________________. Desenvolvimento Pessoal e Profissional do Professor: uma reflexão da e para a Educação de Adultos. Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2000.

 

MUCCHIELLI, Roger. A formação de adultos. São Paulo: Martins Fontes, 1981.

 

PINTO, Álvaro Vieira. Sete Lições sobre Educação de Adultos.  3. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1985.

 

 



[1] Trabalho realizado como requisito para conclusão e aprovação da disciplina Teorias de Aprendizagem ministrada pela Profa. Dra. Marcília Chagas Barreto e pela Profa. Dra. Ana Ignez Belém Lima Nunes.

[2] Mestre em Educação pelo Programa de Mestrado em Educação da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

[3] Termo usado pelo filósofo Gianni Vattimo no livro “Sociedade Transparente” (1991) que significa meios de comunicação de massa.

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